terça-feira, 14 de outubro de 2014

António Costa desistiu de Lisboa

Estrutura Ecológica de Lisboa
Querer-se reduzir o problema das inundações que se verificaram ontem e há 3 semanas, um pouco por toda a Lisboa e particularmente nas Avenidas Novas, a um simples problema de limpeza das sarjetas, é querer apenas ter tempo de antena, dizer mal apenas por dizer. E se é verdade que em grande parte da cidade não houve inundações, entre muitos outros factores, porque as sarjetas funcionaram, também não deixa de ser verdade, que à semelhança do que aconteceu há 3 semanas, na maioria se não na totalidade dos locais que inundaram nas Avenidas Novas, pouco tempo depois de parar de chover já não havia água acumulada, sinal que as sarjetas não estariam entupidas e afinal, também aí, funcionaram.

Mas há algo que não podemos nem devemos esquecer e muito menos ignorar. O sistema hídrico da cidade, as bacias de retenção/infiltração pluvial, as zonas de vulnerabilidade às inundações e mesmo as zonas sobre as quais se fazem sentir directamente os efeitos das marés, estão há muito identificadas e cartografadas, nomeadamente no PDM. Ao longo dos anos a cidade desenvolveu-se ignorando estes factores e agora sempre que existe uma precipitação anormalmente elevada num curto espaço de tempo (34 litros numa hora, como ontem entre as 14h e as 15h), o sistema pura e simplesmente não consegue dar vazão, transbordando mesmo, como foi visível em vários locais da zona mais baixa da cidade.
E se compararmos as zonas ontem inundadas nas Avenidas Novas - zonas de Entre Campos e Praça de Espanha, com a sua localização nestes dois mapas, rapidamente se verifica, que são zonas bem identificadas, consideradas como de vulnerabilidade às inundações elevada e muito elevada, donde não é surpresa para ninguém, o que aconteceu e muito provavelmente vai voltar a acontecer, pois já se percebeu que estes fenómenos têm cada vez menos tendência para serem pontuais.

Este é um assunto que requer uma intervenção séria, estando o problema diagnosticado. Falta vontade da Câmara Municipal de Lisboa, de colocar em marcha o plano de drenagem da cidade aprovado há 7 anos, sobre o qual o Senhor Vereador Manuel Salgado "diz estar a ser realizado “um levantamento exaustivo de todas as situações”, através de um estudo com o custo de 1,5 milhões de euros". Não se querem mais estudos, mas sim que se resolvam os problemas da cidade.

Aliás, para zona da Praça de Espanha, o Senhor Vereador Manuel Salgado afirma que Já tem o plano de execução pronto o colector da Avenida de Berna, que é aquele que, precisamente, vai ligar à Praça de Espanha – que funciona como uma bacia de retenção à superfície e vai depois escoar para o Vale de Alcântara. Esta é uma das obras que se prevê vir a executar”. Ou seja, por mais limpas que estejam as sarjetas, não há neste momento capacidade de escoamento do colector existente, pelo que em situações idênticas, vamos voltar a ter a ruas Silva Teles e da Beneficência inundadas. 

Outra verdade, que a enxurrada de ontem infelizmente provou, é que as infelizes declarações do Senhor Vereador Carlos Castro e do Senhor Presidente da CML a 22 de Setembro, mais não foram que uma infrutífera tentativa de sacudirem a água do capote, pois  ontem "a maré estava longe de estar cheia (...), o aviso laranja foi anunciado com antecedência, (...) e, por isso, não é possível atribuir as culpas nem à maré nem aos meteorologistas" nem à falta de avisos. Ou seja desta vez não se podem queixar de falta de tempo para a Câmara se preparar, o que na prática de nada serviu, como se constatou.

Mas depois do silencio quase total a se remeteu nas duas ocasiões, o Senhor Presidente da Câmara, se bem que dizendo que o que se verificou "nada teve a ver com a falta de limpeza das sarjetas e dos semidouros", surpreendeu tudo e todos hoje na Assembleia Municipal ao afirmar que "O plano de drenagem não faz desaparecer estas situações. A solução não existe". Inacreditável a atitude de desistência do Presidente de Câmara, própria de quem atira a tolha ao chão e desiste de lutar.

Mas uma coisa é certa, se nada se fizer, se continuarmos com planos metidos na gaveta, então é certo que não há solução. Mas se o plano de drenagem, aprovado há 7 anos, já estivesse em execução (e 30% já deveria estar concretizado) de certeza que já se teriam minorado alguns dos problemas e prejuízos verificados e as zonas afectadas seriam de certeza menores. 

Lisboa precisa de alguém que lute por Lisboa, que tudo faça por resolver os problemas de Lisboa, numa palavra de alguém que goste de Lisboa, que sinta Lisboa como sua.

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